A década de 50 é marcada pelo acentuar das mudanças provocadas pela II Grande Guerra e revela-se propícia para o desenvolvimento de uma nova mentalidade cinematográfica. Se na Europa tentava-se reconstruir cinematografias com a ajuda do estado, no outro lado do Atlântico a industria cinematográfica enfrentava o estado, nomeadamente nas investigações do Comité de Investigação de Actividades Anti-Americanas e na decisão do Supremo Tribunal a obrigar os estúdios de Hollywood a desfazerem-se das suas salas de cinema.
Iniciadas em 1948, as investigações do Comité ganharam um novo fôlego quando, em 1951, elementos dos Dez de Hollywood denunciaram vários outros profissionais. Como resultado, o Comité suspendeu dezenas de profissionais que só voltariam a trabalhar livremente no final da década.
A venda das salas de cinema que possuíam levou os estúdios a procurarem outras fontes de receitas e o aparecimento da televisão foi, ao mesmo tempo, uma bênção e uma dor de cabeça. Se por um lado, a televisão “roubou” espectadores às salas de cinema, também permitiu aos estúdios ganharem dinheiro com a venda de filmes para o pequeno ecrã e alguns aproveitaram as suas estruturas para produzirem conteúdos televisivos.
Para combater a fuga de espectadores das salas de cinema, os estúdios começaram a apostar em avanços tecnológicos como os filmes a três dimensões e sistemas de projecção de grande formato. Se os filmes a três dimensões, que necessitavam de uns óculos especiais para serem apreciados, não passaram de uma curiosidade, já os sistemas de projecção de grande formato, como o CinemaScope, contribuíram para o surgimento do cinema espectáculo. Assim, chegam ao grande ecrã filmes como Os 10 Mandamentos, A Volta ao Mundo em 80 Dias, Serenata à Chuva e Um Americano em Paris: verdadeiros acontecimentos cinematográficos que marcaram a década e são, ainda hoje, marcos da história da sétima arte.
Mas dos estúdios não saíam apenas filmes espectaculares e obras como Há Lodo no Cais, High Noon e A Desaparecida reflectem uma sensibilidade mais realista e influenciada pelo pós-guerra.
Após anos de quase obscuridão, a Europa vê as suas cinematografias recuperar e a década de 50 revelou-se bastante criativa e marcou uma ruptura com o passado. A França lidera essa mudança com o surgimento, no final da década, da Nouvelle Vague. Tendo por base uma visão cinematográfica mais livre e realista, onde o realizador é o autor da obra cinematográfica, o movimento deu a conhecer realizadores como François Truffaut, Alain Resnais, Jean-Luc Godard, Roger Vadim, entre outros. Grande parte destes realizadores começou as suas carreiras na revista Cahiers du Cinéma e os seus trabalhos, como Hiroshima, meu Amor, Os 400 Golpes, E Deus Criou a Mulher, entre outros, reflectem a própria sociedade em que vivem, muito longe da fantasia importada de Hollywood.
À semelhança do que se passava em França, também o cinema italiano sofre uma transformação graças a realizadores como Michelangelo Antonioni, Bernardo Bertolucci e Federico Fellini, cujos trabalhos reinventaram o cinema italiano, dando-lhe uma projecção internacional.
Na Suécia, o realizador Ingmar Bergman tem uma das suas décadas mais produtivas realizando Morangos Silvestres, O Sétimo Selo e Sorrisos de Uma Noite de Verão, que o consagram internacionalmente.
» 1950
– A Warner Bros., a Lowe’s, a RKO Radio Pictures e a 20th Century Fox são obrigadas a venderem as suas salas de cinema.
– A Ilha do Tesouro é a primeira longa-metragem de acção (não-animada) dos estúdios Disney.
– Sob o comando do produtor Arthur Freed, os musicais da Metro-Goldwyn-Mayer atingem o ponto alto durante a década.
– O western é outro género cinematográfico em alta durante a década, destacando-se obras de realizadores como John Ford, Howard Hawks, Anthony Mann, entre outros.
– A França produz, durante a década, uma média de 110 filmes por ano.
– Devido à escassez de fundos e a uma política restritiva, os filmes da Alemanha Ocidental são, durante os anos 50, muito limitados a nível criativo.
– São criadas, no Japão, duas novas produtoras: Shin-Toho e a Toei.
– Reflectindo o período pós-independência que o país vive durante os anos 50, os melodramas são muito populares na Índia.
– O México produz, durante os primeiros anos da década, uma média de 150 longas-metragens por ano.
– O governo inglês cria um fundo de apoio à produção cinematográfica, mas sem grande sucesso.
– Até à morte de Joseph Stalin, em 1953, a produção russa é dominada por filmes anti-ocidente.
– Muito embora um alto imposto sobre o entretenimento, que limita a produção cinematográfica, a Suécia distingue-se, durante a década, por dramas domésticos, nomeadamente os realizados por Ingmar Bergman.
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